sábado, 21 de junho de 2008

Vida.

A água gelada que é levada até o rosto desperta e limpa. É a pureza que falta, mas não completa. A face antes escondida por camadas de delineador e rímel estava descoberta, desnuda. Não havia sorriso nem dúvida ou estranheza, acostumara-se com a naturalidade de suas expressões, que só eram entendidas por si mesma.

Os anos haviam passado e com eles pesares eram acumulados, mas enquanto seus olhos puxados mantivessem o olhar firme e meigo, bem como seus lábios mostrassem um sorriso doce e amplo, no momento em que suas faces coravam discreta e delicadamente, não haveria pesar que transparecesse.

A mascara se perpetuara, era ela e ela era a mascara, transformara-se em uma unidade, um amalgama de sólida falsidade crível que escondia a realidade crua na qual estavam envolvidos seus sentimentos. Sua falta de essência transparente não lhe era estranha, na verdade era confortante, uma vez que ter ciência de que outros podiam ler seus gestos e pensamentos com precisão, causava-lhe incomodo.

Gostava de si mais do que de qualquer um, satisfazer-se era necessário e, quanto aos outros, se desse tempo ou tivesse vontade, atenderia às necessidades. Mas nunca demonstrava seu desinteresse, ao contrário, sorria e olhava sinceramente, como alguém pronto a ajudar um desconhecido, mantendo em mente suas vontades e objetivos enquanto fazia o que melhor sabia: esconder sua essência.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Mudança de cor.

Sorriu pela primeira vez depois de muito sentir-se deprimida. Voltara a ser criança, com sorriso facil de quem encontra a felicidade nas coisas mais simples. Esta impressão lhe aquecia o peito e a confortava, pois sabia que este era o caminho que deveria seguir. O cinza tornara-se branco, amarelo, laranja, vermelho e rosa. As suas cores favoritas retornavam à sua vida. Ainda poderia mentir e fingir tristeza, só não havia motivo para tal.

Nem o tempo frio e chuvoso da tarde lhe desanimara, havia nela uma necessidade de agitação, queria sair, conversar, interagir. Encheu-se de planos de diversões, estava euforica, especialmente pelo fato de saber que teria ótimas companhias para cada programa, todos prontos a juntar-se ao seu riso facil e sincero.

Olhou-se no espelho e viu-se mais bela, apesar dos tenis e da camiseta branca sem estampas. Penteou os cabelos, declarou seu amor por si mesma. Sabia que daquele momento em diante sua vida havia mudado. Num gesto apressado, pegou sua bolsa e saiu de casa sentindo-se leve e desprendida do monocromático cinza.