terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Perfeição.

Não havia foco, o olhar disperso entre os espaços de um pensamento e outro enquanto ouvia a música que lhe encantava pela musicalidade e, por saber que quando a mesma era escutada a distâncias ela era lembrada de maneira delicada, como sempre quisera ser pensada: com o carinho de quem sente uma ardência no peito ao primeiro sinal ou ruído de voz produzido pela pessoa querida.
Mesmo no seu olhar desfocado podia-se ver claramente o que acontecia, pois lá havia um brilho atípico, que fugia da opacidade usual e, o sorriso leve e sincero denotava um estado de êxtase explícito por intervalos de suspiros acelerando-lhe os batimentos. Sentia seu corpo vibrar e era tão bom estar assim...livre.
Há meses não se perdia assim, em pensamentos, suspiros e desejos. Era, inclusive, difícil aceitar a sua vontade de compartilhar momentos, experiências e, acima de tudo, sentimentos. Não era vergonha, tão pouco egoísmo, era nada além de medo e pessimismo, afinal, após tantas tentativas em vão, decepções e amores totalmente imperfeitos, confiar tornara-se uma tarefa árdua, no entanto estava ali, disposta a se permitir.
O mais estranho é que sempre se mantivera no controle e, apreciava tê-lo, no entanto ele escapava-lhe cada vez mais, permitindo-lhe laça-lo em apenas poucos momentos, nos quais percebia que era melhor solta-lo, pois sabia que ele lhe impediria de viver aquilo que não mais pensava ser possível.
Percebendo seu fado, cabia-lhe apenas a tarefa de cerrar os olhos gentilmente enquanto o chão lhe faltava, esquecendo a razão e transformando tristeza em contentamento, pessimismo em otimismo, decepção em aprendizado e, por fim, amizade em amor, pois desde que o conhecera e cedera-lhe um espaço no peito, ele o ocupou e o preencheu por completo.

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